quarta-feira, 24 de junho de 2015

Sem desoneração, custo da indústria aumenta R$ 756 mi

Valor reflete somente variação para as seis atividades que mais empregam no Estado; sindicatos patronais alertam para risco de alta no desemprego


A aprovação na Câmara Federal do fim das desonerações sobre a folha de pagamento deve causar impacto de R$ 756,6 milhões nos custos somente dos seis principais segmentos da indústria paranaense, segundo levantamento divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). O temor é de que a proposta, que faz parte do ajuste fiscal do governo federal e que deve entrar na pauta de votação hoje, diminua mais o lucro dos empresários, o número de postos de trabalho, além de elevar a inflação em um momento de crise. 

Existe a possibilidade de o impacto diminuir, caso parte da indústria de alimentos tenha reajustes menores, como propôs o relator do projeto na Câmara, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Os seis principais segmentos industriais do Estado (veja no infográfico) empregam 425 mil pessoas, segundo a Fiep, quase a metade das 870 mil que trabalham no setor. 

O Projeto de Lei 863/2015 atinge 56 atividades, das quais 40 da indústria, nove de transportes, cinco de serviços, a construção civil e o comércio varejista. A proposta é que as alíquotas para empresas que recolhiam 2% da receita bruta à Previdência passem a 4,5% e as que pagavam 1% subam a 2,5%. Caso não valha a pena, os empresários podem optar por voltar ao modelo antigo de contribuição, de 20% sobre a folha de pagamentos. Segundo a Fiep, dos seis principais segmentos industriais do Estado, somente maquinário, roupas e produtos de metal devem continuar no modelo atual. 

Para o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, a necessidade do ajuste fiscal é compreensível, mas ocorre em um momento infeliz, de desaceleração econômica, juros altos e inflação persistente. "Os principais efeitos devem ser sobre os empregos, sobre o faturamento das empresas e sobre a inflação dos alimentos", diz. Ele considera que a desoneração serviu para melhorar a competitividade da indústria, no que o País retrocederá. 

O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiviapar), Domingos Martins, afirma que a medida atingirá os mais pobres. "É uma forma imprudente de reagir. Entendemos o problema de caixa do governo, mas estamos falando de um produto como o frango, que faz parte da cesta básica e que deveria ser totalmente desonerado." 

A solução seria o governo também fazer o dever de casa e cortar os próprios gastos, diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), Nelson Poliseli. "É um absurdo, porque a carga tributária aumenta e não podemos repassar ao preço do produto porque os lucros e as vendas diminuem, da mesma forma como ocorreu com a alta da energia. O mercado de trabalho ainda está se mantendo, mas estamos preocupados", conta. 

Conforme a coordenadora do Conselho Setorial Têxtil e de Vestuário da Fiep, Luciana Bechara, o maior problema é que o custo com pessoal no setor chega a 15%, o que causa alto impacto nas contas das empresas. "Estamos fora da competição mundial há muito tempo e vamos ficar fora da nacional. O Nordeste sofre menos porque tem muita economia informal e vai ficar ainda mais inviável para as indústrias do Sudeste para baixo competirem", conta, ao lembrar que as empresas do setor têm trabalhado em 40% da capacidade no Estado. 

O economista Cid Cordeiro, especialista em mercado de trabalho, afirma que a desoneração foi adotada para ser um subsídio pontual, e não permanente, para minimizar os efeitos da crise na geração de empregos. Porém, isso pressionou as finanças da União. "Uma opção seria o governo cortar gastos, mas continuaria a privilegiar alguns setores. As empresas deveriam propor contrapartidas, como não reduzir vagas ou não repassar a inflação para tentar negociar", diz. Fonte: Folha Web.

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