segunda-feira, 24 de agosto de 2015

CÂMARA Com base na igreja, Cunha monta rede de apoios para seguir no cargo

Cunha com o pastor e deputado Takayama: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na Justiça”. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Cunha com o pastor e deputado Takayama: “Quanto a mim, contemplarei 
a tua face na Justiça”.

Após ser denunciado ao STF por envolvimento na Lava Jato, peemedebista tem sofrido pressão para deixar a presidência da Câmara


Por trás do bordão “afinal de contas, o nosso povo merece respeito”, usado nos encerramentos de seus discursos nas igrejas e boletins diários na rádio Melodia FM, de programação evangélica, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), construiu uma ampla rede de apoio político no Congresso e no estado do Rio. Seu grupo reúne parlamentares, líderes religiosos e comunitários. E é com esse capital político que o peemedebista conta para se manter firme no cargo diante da denúncia, apresentada semana passada ao Supremo Tribunal Federal (STF), de envolvimento nos desvios investigados na Lava Jato.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustentou que parte da propina destinada ao presidente da Câmara foi paga em doação para uma Assembleia de Deus em Campinas (SP), presidida por Samuel Ferreira, que escreve para o site de Cunha, “Fé em Jesus”. Samuel é irmão do pastor Abner Ferreira, presidente da Assembleia de Deus de Madureira, uma das que o peemedebista frequenta no Rio. A igreja de Campinas recebeu R$ 250 mil das empresas de Julio Camargo, delator que afirmou que o deputado pediu a ele US$ 5 milhões. O parlamentar nega.

Cunha também influencia fiéis fora das dependências da Câmara e dos cultos evangélicos. No mundo virtual, o peemedebista é dono de 284 domínios na internet – muitos já desativados, mas ainda em seu nome –, sendo que 175 deles, mais de 60% do total, possuem a palavra “Jesus” no endereço eletrônico.

Cunha não é de família evangélica. Entrou na Igreja Sara Nossa Terra há cerca de 20 anos levado por Francisco Silva, dono da Rádio Melodia FM. Mas trocou recentemente de denominação religiosa, mudança percebida como estratégia para ampliar seu rebanho. Foi para a Assembleia de Deus, maior e mais influente. A igreja reúne cerca de 13 milhões de seguidores, segundo o IBGE – a Sara Nossa Terra tem pouco mais de 1 milhão de fiéis.

A mudança de denominação credenciou o peemedebista a buscar votos nos templos da Assembleia de Deus e a conquistar a confiança de nomes como Pastor Everaldo – que se candidatou à Presidência no ano passado – e bispo Manoel Ferreira, um dos principais líderes evangélicos Rio.

“Ele tem uma rotina muito puxada quando está no Rio. Vai às igrejas e visita obras de aliados”, diz o deputado federal Washington Reis (PMDB-RJ), um dos fiéis a Cunha.

Alinhado com o público que ajudou a elegê-lo, o peemedebista é defensor das pautas relativas aos direitos da família. É assim que também mantém o apoio dos líderes religiosos, que veem em Cunha um deputado capaz de engavetar projetos que não lhes agradem e de levar adiante propostas que estejam entre suas demandas.

É com base nesse apoio que o peemedebista tem afirmado não ter relação com os escândalos descobertos na Petrobras. Trata as notícias como boatos e mentiras. Mesmo sem falar diretamente sobre o assunto, dá seus recados por meio das mensagens bíblicas. Em sua página no Facebook, posta todos os dias uma delas. Um dia depois de ser denunciado, a passagem da Bíblia foi do livro de Salmos: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na Justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar?”.Fonte: Gazeta do Povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário